60% dos jovens portugueses não seguem formação superior

Recentemente, saiu na Imprensa que cerca de 60% dos jovens não segue o ensino superior. Uma realidade que deve deixar preocupadas as entidades responsáveis, pois associado à taxa de analfabetismo, ao número de jovens que não completam o 9º e o 12º ano e as baixas qualificações, são dados que reforçam que ainda existe muito por fazer na educação e na formação em Portugal.
Na realidade, os modelos dos cursos profissionais e a pouca diversidade de ofertas no superior ajudam a explicar o fenómeno e dá razão a quem por vezes, abdica da formação superior por uma carreira baseada em cursos profissionais.

Números em Portugal
Em Portugal, existe uma grande diferença entre o número de estudantes inscritos no ensino secundário e aqueles que acabam por ingressar num curso superior.
Cerca de mais de metade dos jovens de 20 anos não está a estudar e é necessário fazer alterações mas também mudar nas formas de acesso e nas ofertas do superior.
Segundo o Education at a Glance, o relatório anual sobre educação da OCDE, a população entre os 15 e os 19 anos, Portugal tem uma percentagem de alunos inscritos em instituições de ensino superior à média internacional – 89% contra 85% na OCDE.
Entre os 20 aos 24 anos, a percentagem de população inscrita numa instituição de ensino, em Portugal, é de 37%, ao passo que, na OCDE é de 42%.
Um outro dado do Education at a Glance 2018 é que entre os 16 e aos 17 anos, Portugal tem 98% da população inscrita em instituições de ensino, a partir dos 18 anos o indicador cai de forma abrupta: 82% de inscritos aos 18 anos, 65% aos 19 e apenas 54% aos 20 anos.
Entre a população que tem 25 a 34 anos só 34% tem formação superior. Na OCDE são 44%. O que significa que ainda existe muito trabalho pela frente de todos os responsáveis.

Qual o motivo destes números?
Efetivamente, este números não são uma surpresa. Em Portugal, a formação superior ainda é um sonho para uma grande parte das famílias e dos estudantes. Mas se na década de 1990 era a garantia de emprego e de uma vida estável, 20 anos depois uma licenciatura e um mestrado não garante qualquer tipo de emprego e estabilidade.
A este facto, associa-se os custos elevados da formação superior, entre as quais, as propinas, alimentação e transportes e custos associados ao material escolar. Custos que são suportados muitas vezes pelos pais e que devido ao baixos rendimentos, muitas vezes, os alunos abdicam de continuar os estudos e procuram um desafio profissional.
Um segundo aspeto interessante é o número de horas da carga horária no ensino, o que por vezes, impede aos estudantes suportar os custos e ter um part-time ou uma ocupação profissional nas horas livres.
Em média, cerca, 15 mil estudantes em cada ano lectivo que, depois de entrarem no ensino superior, desistem de prosseguir os estudos. A taxa de abandono de uma licenciatura é de 29%, segundo um estudo da Direcção-Geral de Estatística da Educação e Ciência (DGEEC), o que revela que ainda existe muito trabalho para se fazer.

O sucesso do ensino profissional
Se por vezes criticamos o nosso ensino, também existem pontos positivos e que devem ser realçados e destacados, o ensino profissional.
Cada vez mais existe uma maior procura e oferta das escolas e instituições e o fato de dar origem a curso de nível IV e a oportunidade de seguir no ensino superior, são cada vez mais procurados em prol do ensino tradicional. Os cursos profissionais são também uma forma de ter uma formação e preparar para o mercado de trabalho, o que afasta alguns potenciais universitários, que abdicam para começar uma carreira no mercado de trabalho.
Portugal também tem margem para aumentar o número de estudantes em regime de tempo parcial – em que é um dos países com menos alunos inscritos, com 5,19% contra 19,65% de média da OCDE, na qual a oferta tem de se adaptar para que seja uma oferta de qualidade e os alunos não só entrem como também progridam e saiam com as competências.

De que forma se pode colocar mais alunos em formação superior?
Nunca é tarde para estudar, adquirir competências e melhorar soft skills. Muitos profissionais voltam à sala de aula para completar o ensino básico, o ensino secundário e o ensino superior. Cada pessoa tem o seu objectivo de vida e se foi defendido que um curso profissional é uma mais valia, o ensino superior é também uma realidade que deve ser explorada, seja a curto como a médio-longo prazo.
Muitos alunos procuram o ensino profissional como uma forma de preparar o futuro. Se no ensino regular, não existe formação prática, o ensino profissional permite abrir portas para o ensino superior mas ao mesmo tempo, para o mercado de trabalho. E tendo em conta que o ensino profissional tem uma componente bastante prática, prepara ainda melhor os alunos para o ensino e formação superior, dando alguns conhecimentos e facilitando a integração no ensino superior.
Desta forma, verifica-se que o ensino profissional não “puxa” os seus formandos para o ensino superior. Muitas vezes, é associado a quem procura um emprego e não deseja continuar a estudar, a própria comunidade escolar não reconhece que o ensino profissional permite o ingresso na formação superior da mesma forma que o ensino normal e por fim, ainda se pensa que o ensino profissional é para alunos com pouca capacidade.
Deve ser dado mais apoio aos estudantes e que ajude no mérito escolar para evitar que estes abandonem o ensino superior por razões financeiras.
A revisão do financiamento do ensino superior público e privado (estudar no ensino privado pode custar entre os 800 a 1.000 euros mensais) e ideias de ajudar, como por exemplo, o cálculo da propina em relação ao rendimento familiar em que cada família paga consoante aquilo que pode é uma das ideias defendidas.

Será que o ensino superior não está preparado para incluir as pessoas no mercado de trabalho?
Tal como referido anteriormente, a formação superior ainda não se apresenta maximizada para as necessidades profissionais. Este é um problema que se procura combater mas que dificulta a escolha entre estudar e trabalhar e potencia taxas de desemprego. O próprio Governo não tem mecanismos para combater o abandono do ensino superior.
Até 2020, em Portugal não será possível alcançar uma taxa de 40% de diplomados entre os 30 e 0s 34 anos, sendo necessário alargar as bases do ensino superior. As áreas de estudo com taxas de abandono e insucesso mais elevadas são a Informática, Engenharias, Arquitetura e Construção e Ciências Físicas – 33% a 38% dos alunos não conseguiram terminar nos três anos previstos e as taxas de abandono e transferências são da ordem dos 20%. No extremo oposto, as áreas dos Serviços Sociais, Saúde, Informação e Jornalismo, Ciências Veterinárias e Ciências da Educação – todas com percentagens de conclusão entre os 67% e os 70%.

Quanto vale uma licenciatura?
Prosseguir nos estudos e decidir avançar para uma licenciatura é um passo que deve ser ponderado com muito cuidado. Cada vez mais existem licenciados em Portugal (embora os números ainda sejam baixos), mas, no entanto, ainda vale a pena seguir o ensino superior. As vantagens são:

  • Pensamento analítico – Aprender a melhor forma para chegar a uma decisão e saber analisar e comparar diferentes pontos de vista é uma mais valia no mercado de trabalho;
  • Começo de carreira – Em muitas profissões ter uma formação académica superior é um requisito essencial para conseguir entrar no meio.
  • Progressão na carreira – Muitas empresas decidem as suas promoções com base na formação académica dos seus empregados.
  • Vantagens económicas – As pessoas com mais estudos ganham mais do que as menos qualificadas;
  • Amigos – É muitas vezes no meio académico que se encontram amizades que duram uma vida inteira.
  • Contínua fonte de conhecimento e informação – São cada vez mais as empresas e as universidades que mantêm laços de interligação.
  • Objectivos de vida – Para além das oportunidades de aprendizagem oferecidas pela interacção social, permite conhecer pessoas e determinar objectivos de vida pessoal e profissional.

O país precisa de mais pessoas no ensino superior e o que aconteceu no ensino secundário pode servir de modelo, pois quando se fez uma massificação no secundário teve que ser feita uma diversificação da oferta e no caso da formação superior terá que acontecer o mesmo.

 

Veja aqui alguns dos cursos profissionais que divulgamos atualmente.